terça-feira, abril 14, 2015

Gerente de mercado tenta enganar a polícia e acaba preso com ladrão de picanha

O delegado David Queiroz postou no Facebook detalhes de uma ocorrência em Santa Catarina: um ladrão foi detido por ter supostamente roubado 14 peças de picanha em um mercado da cidade de Brusque.

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Durante o interrogatório, o ladrão confessou o crime. Mas com um porém: ele afirmou ter roubado 4 peças e não 14, como dizia o gerente do mercado.


Dirigi-me ao gerente do local e indaguei-lhe sobre a alegação do preso. Surpreendentemente ele respondeu que havia implantado as outras 10 peças de carne junto ao preso porque sabia que somente com as 04 peças realmente subtraídas ele seria solto ainda na delegacia de polícia, tendo em vista a aplicação do princípio da insignificância.

Isso mesmo: o gerente plantou falsas evidências (no caso, 10 picanhas a mais) na tentativa de piorar o crime e certificar-se que o ladrão fosse mesmo preso.


Respirei fundo e confesso que por um instante pensei em simplesmente ignorar a confissão que estava fazendo. Acredito que ele também imaginou que eu apoiaria sua atitude, motivo pelo qual confessou. Todavia, a vontade de “fazer a coisa certa” falou mais alto. Assim, constrangido, e após até mesmo pedir desculpas ao gerente, dei-lhe voz de prisão em flagrante pelo crime de fraude processual (art. 347 do CP).

Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, David Queiroz disse que os dois (o ladrão de picanha e o gerente do mercado) foram então detidos.

Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, David Queiroz disse que os dois (o ladrão de picanha e o gerente do mercado) foram então detidos.
Reprodução / Via jatv.com.br
“Enfatizo que não senti nenhum prazer em dar voz de prisão aquele homem. Mas gostaria de deixar bem claro uma coisa: eu não fiz concurso para Batman! Não é função do delegado de polícia ser “justiceiro” e tentar solucionar o problema da criminalidade com as próprias mãos”, disse o delegado em seu Facebook.

David disse ainda que a atitude de prender o gerente revoltou muita gente.


Minha atitude, respeitosa à lei, gerou indignação de muitos e severas críticas, como, por exemplo: “É um absurdo soltar o ‘vagabundo’ e prender ‘vitima’; que falta de bom senso desse delegado, poderia ter dado um ‘jeitinho’, bastava ignorar a afirmação do preso; se ele quer proteger o preso, vira defensor; é por isso que país não vai para frente, somente os “vagabundos” tem direitos.”
Seria muito fácil me omitir diante da afirmação daquele “infeliz” que foi conduzido pelo furto de picanhas. Seria muito fácil simplesmente manda-lo para o presídio, afinal, “é só mais um viciado”. Mas eu não conseguiria dormir tranquilo diante de tamanha injustiça.

Segundo o delegado, o ladrão permanece preso pois não pagou fiança de um salário mínimo (R$ 788). O gerente foi solto após pagar fiança estipulada em dois salários (R$ 1.576).


David Queiroz explicou que a diferença de valores se dá, entre outros motivos, principalmente pro causa da natureza distinta dos crimes e condição pessoal de fortuna dos acusados.
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