quinta-feira, abril 23, 2015

Meu filho ainda não fala

Primeiro vem o choro, depois as risadinhas e o lalalá, as primeiras sílabas e finalmente, entre o primeiro e o segundo ano de vida, as primeiras palavras. Nessa fase, os bebês já começam a entender o que os adultos dizem e estão se preparando para soltar a língua.
Não é à toa que esse é um momento crítico para os pais. E, se uma criança de quase 2 anos ainda não começou a dizer coisas como “sim”, “não”, “mamãe” e “papai”, bate uma preocupação.
Foi o que aconteceu com a paraibana Gheysa Macedo, mãe do Pedro Luiz. “Meu filho já estava com 2 anos e não falava quase nada. Como mãe, estava ficando desesperada achando que ele tinha algo errado”, diz.
De acordo com ela, a escola também se preocupava, porque Pedro Luiz não interagia muito nas atividades em grupo pela dificuldade na comunicação.
Orientada pela psicóloga do colégio, a primeira atitude de Gheysa foi tirar a mamadeira do filho. Depois, ela teve que correr atrás do tempo perdido.
Fique de olho na “fala preguiçosa”
Gheysa percebeu que cometia um dos erros mais comuns dos pais nessa fase: adiantar os desejos do filho. Quando o Pedro queria alguma coisa, bastava apontar para que a mãe corresse e a desse na mão dele.
“Muitas vezes os pais têm essa ansiedade de adiantar as vontades da criança, mas ela precisa pedir. Se tem fome, precisa chorar para só aí ser atendida. Os pais precisam estimular o filho a deixar essa ‘preguiça’ de lado e fazê-lo falar, pedindo de uma maneira brincalhona para que repita a palavra”, diz a pediatra Ana Escobar, autora da série Boas-vindas, Bebê (Editora Principium).
Foi exatamente isso o que Gheysa fez, quando passou a esperar que o pequeno realmente pedisse algo em vez de ela adiantar.
“Se ele apontava para o filtro querendo água, por exemplo, eu dizia ‘Filho, só vou te dar água quando você me falar o que quer’. Não foi rápido e precisei combinar isso com minha mãe e a escola. No começo ele pedia ‘aba’ e eu reforçava com ‘Diga assim: Mamãe, quero água’, sempre dando exemplos e outras opções de frases para que ele aprendesse a se comunicar”, lembra-se.
Hoje, aos 4 anos, o Pedro é um tagarela e surpreende a todos com suas perguntas!
Problema pode estar na audição
Existem outras questões além da chamada “fala preguiçosa” para ficar de olho. Quando uma criança fala pouco a ponto de chamar a atenção das pessoas com quem convive, é preciso observar inicialmente como está a sua compreensão de fala, ou seja, se ela é capaz de entender o que lhe é dito.
“Outro ponto importante é investigar se está tudo bem com a audição do bebê, pois crianças com problemas auditivos apresentam dificuldade no desenvolvimento da linguagem oral”, explica a fonoaudióloga Bruna Marcondes Casson, da Clínica Infantil Bem. Por isso, um exame de audição é um dos primeiros a serem feitos.
A paulista Natália Dino descobriu que o filho tinha um problema de adenoide nessa fase, o que afetou o desenvolvimento da fala.
“Como o nariz estava tapado, o canal do ouvido do Vini tinha água e catarro. Isso prejudicou a audição dele e, consequentemente, a fala. Ele tinha muita vontade de falar e ficava até irritado por não conseguir”, conta.
A criança precisou fazer uma cirurgia para resolver o problema e só um mês depois começou a recuperar o atraso. “Antes ele não tentava manter uma conversa. Só ignorava. Agora, já ouve e responde o que a gente pergunta e pronuncia bem melhor as palavras”, completa Natália.
Criança precisa de conversa e carinho
O atraso no desenvolvimento da fala pode estar relacionado a problemas mais sérios, como o autismo, mas as especialistas afirmam que, na maioria dos casos, trata-se de uma questão individual da criança e da quantidade de estímulos dados pelos adultos.
“Pais que falam e brincam pouco com seus filhos, não têm contato com livros e convivem em um ambiente pouco letrado podem ter crianças com atraso na linguagem”, diz a especialista Bruna.
Para reverter o quadro, ela dá algumas dicas: “Expliquem suas ações, os acontecimentos do cotidiano, incentivem novas descobertas através da leitura de livros, descrevam a função dos objetos com que a criança tem contato em vez de apenas nomeá-los, cantem músicas e histórias. Dessa a forma, ela começa a ter mais interesse pelas coisas que a cercam”, observa.
Ana Escobar acrescenta que conversar com a criança é a melhor forma de fazê-la falar. Para a pediatra, outros erros comuns dos pais são falar com a criança com aquela voz aguda que muitos usam com bebês, cheia de diminutivos, e repetir os erros de pronúncia dos filhos.
“É importante olhar no rosto e falar de forma clara e tranquila com as crianças. A voz muito aguda irrita o ouvidinho delas. Use um tom de voz normal e pronuncie direito as palavras, não imitando os erros das crianças só porque são bonitinhos. Assim, elas aprendem errado”, diz Escobar.
Mas o mais importante nisso tudo é demonstrar carinho e interesse pelo mundo deles. Segundo Escobar, o vínculo afetivo com os pais e cuidadores – tanto verbal como não verbal – é fundamental para a conexão dos neurônios no cérebro da criança, formando a rede neural que favorece o desenvolvimento da linguagem.
“Por isso, é preciso mostrar envolvimento com as coisas dos filhos. Falar com o coração, não feito um robô. Ande pela casa com eles sempre, aponte para o céu, diga: ‘Olhe o céu azul!’. Essa convivência faz com que ela entenda o significado das coisas, mesmo das emoções, ao longo do tempo”, assegura.

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